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Rappers cortam palavrões de letras de músicas

06/08/2007


Os críticos de rap reclamam há anos, mas esse estilo de música fica cada vez mais profano, e mais popular. Agora, porém, parece que Don Imus pode estar conseguindo o que uma geração inteira de críticos não conseguiu. Quatro meses após o insulto dos comentários sexistas e racistas de Imus resultar na intensificação da imagem negativa do rap, e à medida que as vendas desse gênero continuam caindo, alguns artistas estão nitidamente abandonando a linguagem ofensiva. O vencedor do disco de platina Chamillionaire anunciou recentemente que seu novo disco, "Ultimate victory", não conteria palavrões e termos racistas ofensivos. Diversos rappers menos conhecidos estão se promovendo como alternativas ao rap gangsta adepto da misoginia. Os agentes responsáveis pela nova sensação de 17 anos, Sean Kingston, o promovem como próprio para menores. E o gangsta veterano Master P também declarou que passaria suas músicas a limpo (embora os dias de criação de hits do concurso "Dancing with the stars" agora já façam parte do passado). Contudo, outros mantêm o tom provocador, enfrentando a crescente pressão do público e das corporações. Eles prometem permanecer, nas palavras do rei sensual do rap Uncle Luke, tão indecentes quanto acharem conveniente. "Teria que valer muito a pena para me fazer mudar o modo como faço minha música", declarou Twista, cujas letras explícitas o excluíram de um show patrocinado pelo McDonald's nesta semana. "Vou continuar da mesma forma porque sei que estou fazendo música de qualidade". Chamillionaire descobriu que ainda poderia fazer música de qualidade, só que sem a linguagem pesada. O rapper, que ganhou um Grammy neste ano com seu sucesso afrontoso "Ridin", afirma que, de qualquer forma, a linguagem de sua música nunca foi assim tão pesada. Apesar de que em relação ao uso da palavra "nigger" (crioulo), que em inglês possui uma conotação totalmente ofensiva e racial, as coisas foram diferentes: "Sempre usei a palavra que começa com 'n'". Mas após o sucesso de seu mais recente disco, ele saiu em turnê e viu grande parte dos rostos brancos repetindo com ele esse termo junto com as letras das músicas. Agora Chamillionaire mudou de direcionamento para o novo álbum, a ser lançado em setembro nos EUA pela Universal Music Group, controlada pela General Electric Co. "Eu pensei assim, 'Quer saber? Não vou mais dizer a palavra que começa com 'n' neste disco porque quando voltar para a estrada e começar a me apresentar, não quero ver a platéia repetindo isso, como se eu estivesse os ensinando a repetir'", declarou ele à Associated Press. Chamillionaire insiste que essa mudança é uma questão moral e não tem a ver com a hostilidade em relação a Imus: "Há muita gente oportunista... Eu sem dúvida não sou assim". No entanto, mais oportunidades podem surgir para os rappers com letras passadas a limpo após a condenação por parte da opinião pública em relação a Imus por ter chamado o time feminino de basquete da Rutgers University de "nappy-headed hos" (algo como "as gostosas de cabelo ruim") em transmissão de rádio. A indignação em relação a Imus não tardou a ser redirecionada para referências tão misóginas quanto as presentes no rap, embora muitos tenham questionado se não teria havido exagero na reação. Em seguida, choveram telefonemas de todo tipo de gente, desde representantes dos direitos civis até o pioneiro do rap Russell Simmons, nas corporações e emissoras de rádio pedindo para que estas fossem mais rígidas na censura de indecências e refrões racistas. Há 15 ou 20 anos, quando pessoas na época equivalentes a Tipper Gore e C. Dolores Tucker protestavam, o rap simplesmente driblou a controvérsia e ganhou força em meio à explosão nas vendas que geraram centenas de milhões de dólares às corporações de capital aberto. No entanto, agora as vendas de rap caíram drásticos 33% em relação a 2006, o dobro da queda na indústria da música como um todo. Além disso, os rappers saíram da linha alternativa e se tornaram comerciais, o que faz com que eles – e suas propagandas, papéis em filmes e linhas de roupas – fiquem mais vulneráveis às pressões externas. Talib Kweli, bastante conhecido como um artista com consciência social, afirma que sempre houve rappers de postura mais construtiva, mas que estes não receberam atenção de seus companheiros do gangsta. Ele não acredita que isso mudará após o ocorrido com Imus, mas afirma que a decisão de Chamillionaire é "sábia, inteligente e criativa, e eu o apóio totalmente nessa questão". "Ele é o tipo de artista talentoso o suficiente para ficar acima de tudo isso, e está defendendo seu argumento. Os executivos da indústria estão tão acostumados à fórmula que não sabem o que fazer e acho que estão assustados". Alguns podem já ter ficado assustados há algum tempo. O novo CD de Sean Kingston, com o sucesso "Beautiful girls", uma mistura de reggae, rap e R&B, é divulgado como um disco sem palavrões. Talvez você não ache que Sean, com aquela carinha de bebê, lançaria mão de letras obscenas, já que é tão novo, mas estamos falando de uma indústria fonográfica que lançou Foxy Brown, de 15 anos, fazendo rap sobre o poder do sexo, e o sucesso surpresa J-Kwon se gabando por ficar "Tipsy" ("embriagado") aos 17 anos. "Eu só queria contentar todos os fãs", declarou Kingston, que nasceu em Miami, mas morou alguns anos na Jamaica. "Não quero que ninguém diga, 'Ele não tem respeito, fala muito palavrão'". Na verdade, não houve muitos rappers seguindo a mesma postura. Basta escutar qualquer rap no rádio que você provavelmente ouvirá muitos bipes abafando palavras supostamente obscenas, referências à violência e conteúdo sexual. A tolerância a esse tipo de linguagem pode estar diminuindo. As empresas fizeram parcerias com rappers do estilo gangsta nos últimos anos, levando sua mensagem para o lado comercial. Snoop Dogg e T.I., por exemplo, apareceram em propagandas de carros com grande destaque. Nos últimos meses, porém, as empresas parecem menos propensas a se associarem a artistas que fazem a linha mais rude. A Verizon cancelou o patrocínio da turnê de Gwen Stefani quando um vídeo exibido na apresentação de abertura de Akon, mostrava o artista simulando uma relação sexual no palco, em outro show, com uma fã, que mais tarde se soube que tinha 14 anos. (Akon afirma que não sabia que a menina era menor). Em outro exemplo, apesar de o McDonald's Corp. ter fechado com Twista pela série de shows gratuitos programados para o verão americano, a empresa rapidamente o cortou após a pressão da opinião pública contrária às letras do artista. Para substituir Twista? Sean Kingston. "Eu sei que há muitos artistas sendo excluídos de patrocínios devido ao conteúdo de suas letras", afirmou Chuck Creekmur, que administra o site allhiphop.com. Ted Lucas, CEO da Slip-N-Slide Records, conta que ele mesmo sofre um pouco da pressão. Lucas, cujo selo é responsável por artistas como o violento rapper Trick Daddy, a sexy Trina, o gangsta Rick Ross e a nova estrela Plies, conta que nas últimas semanas os distribuidores tentaram fazer com que ele convencesse seus artistas a dar uma moderada na linguagem. "Eles chegaram para mim e disseram ... 'Esta palavra aqui vai causar polêmica mais pra frente. Daria para pedir para ele mudar?' Tive problemas com a palavra que começa com 'n', dando margem a problemas com outras palavras", contou ele. "Mas sempre digo que essas são coisas em nosso meio com que lidamos todos os dias. É difícil dizer para a pessoa que ela simplesmente não pode usar determinada palavra". O rapper 50 Cent proferiu a defesa clássica do hip-hop: os rappers contam as histórias inspirados na dureza das próprias ruas de onde vieram. "Eles se esquecem de que a forma de arte é um espelho e o que escrevemos é um reflexo do meio onde crescemos", declarou à AP. "Pode até ser interpretada como uma exaltação em certos aspectos, mas tenta captar um determinado sentimento". Seu novo single, "I get money", possui diversos trechos candidatos a serem abafados por bipes, mas ele não se desculpa por isso. "Sempre compus assim sem ter de fazer concessões", disse ele. "Não é agora que vou mudar alguma coisa".

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